Há pouco mais de um mês, enquanto navegava pelo Facebook no meu laptop, me deparei com um anúncio curioso: uma proposta romântica. Em meio a fotos de noivado e ensaios de gravidez de amigos do colégio, um homem de blazer, camisa xadrez e barba aparecia, declarando: “Tenho 33 anos, 1,90 m e estou procurando um relacionamento”. Por pura curiosidade, cliquei no anúncio (mesmo estando em um relacionamento feliz e sem a intenção de procurar interesse romântico no Facebook). O link me levou a um Formulário Google com perguntas sobre sua forma física, família, religião, política, podcasts preferidos e até memórias de infância. O questionário era simples, pedindo idade, perfis de redes sociais e informações de contato. Ainda assim, o ousado nova-iorquino de 33 anos se aventurava em um território inexplorado: usar publicidade paga em redes sociais para encontrar o amor.
Pensando que as mídias sociais permitem segmentar públicos por localização e idade, anunciar no Facebook ou Instagram para se colocar diante de milhares de mulheres da região parece uma estratégia eficiente. É como pular a intermediação dos apps de namoro e partir direto para um Formulário Google – afinal, o que é mais romântico que isso? Seguindo o exemplo de outros homens que fizeram demonstrações públicas de autopromoção romântica, como o “cara solteiro de Adelaide” de 43 anos que usa anúncios online para encontrar alguém “de aparência mediana” e sem histórico de intimidade, essa abordagem é uma nova maneira de buscar conexões.
Antes do nova-iorquino do Google Forms e do homem de Adelaide, havia Dan Perino. Há dez anos, ele espalhou panfletos em preto e branco por Nova York dizendo estar "procurando uma namorada". Hoje, Perino carrega um novo panfleto: “Procurando a mulher perfeita”. Segundo ele, “isso levanta a questão sobre o que é a mulher perfeita”. Com o poder das redes sociais, o panfleto foi compartilhado milhares de vezes, gerando cerca de "quatro milhões de respostas de todo o mundo". No entanto, essas respostas resultaram em apenas um encontro pessoal. "Ir a um bar para conhecer alguém te dá apenas uma ou duas opções por noite, além do gasto com bebidas e o esforço envolvido", ele diz. "Com meus panfletos, recebo milhares de ligações diariamente e posso escolher."
Com 79% dos jovens relatando desgaste em aplicativos de namoro, segundo a Pesquisa de Saúde da Forbes de 2024, não é difícil entender por que algumas pessoas estão procurando alternativas. No entanto, se todos começarem a usar postagens patrocinadas para se promover romanticamente, as redes sociais podem se transformar em um ambiente caótico, repleto de links para Google Forms e “inscrições para namorada”.
Embora a maioria dos anúncios de namoro pareçam ser feitos por homens heterossexuais, algumas mulheres também têm adotado a tendência. Karolina Geits, modelo e criadora de conteúdo de 30 anos, tem se filmado enquanto coloca panfletos pelas ruas de Nova York com o texto "procurando um homem rico" desde o ano passado. “Em um mundo onde o namoro online é tão comum, quis tentar algo diferente e chamativo que realmente captasse a atenção das pessoas e criasse uma conexão genuína”, explica. Ela conta que já teve contato com alguns homens ricos e elegíveis, o que a encorajou a continuar. Recentemente, foi até os Hamptons para “expandir a busca” e já teve vários encontros graças aos panfletos e seus vídeos no TikTok. “Estou confiante de que minha persistência e meus métodos inovadores me levarão à pessoa certa”, afirma.
Geits acredita estar testemunhando uma mudança social, com as pessoas optando por formas “mais personalizadas e fora do comum” de encontrar o amor. “Anunciar-se publicamente permite uma abordagem mais direta e engajante, alcançando um público maior além dos limites dos aplicativos de namoro tradicionais”, diz ela. Porém, o paradoxo é claro: quanto mais pessoas tentarem se destacar com anúncios patrocinados, menos interessados aparecerão. Assim como no marketing de influência, quando algo perde sua novidade, fica mais difícil despertar o interesse das pessoas. Talvez a solução para a frustração crescente com o cenário atual de relacionamentos não seja mais autopromoção, mas sim desacelerar e focar em menos opções. Até lá, prepare-se para ver mais anúncios de namoro patrocinados e links para Google Forms.
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